Cristóvão Colombo: Factos e Ficções

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Se cresceu nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, Cristóvão Colombo foi provavelmente uma daquelas figuras que parecia demasiado boa para ser verdade quando ouvíamos falar dele na escola — um intrépido descobridor de novas terras, um nobre pioneiro.

E era certamente popular. As comemorações do Dia de Colombo são eventos regulares desde meados do século XIX, mas só em 1971 se tornou um feriado nacional oficial nos EUA, fixado na segunda segunda-feira de Outubro. Este ano, calha na segunda-feira, 13 de Outubro. Para milhões de Americanos de ascendência Italiana, o Dia de Colombo continua a ser uma fonte de orgulho étnico, embora não existisse uma Itália unida antes de 1861 — Colombo navegou como cidadão da cidade-estado de Génova. Nos últimos anos, porém, muitos dos que deploram as viagens de Colombo começaram a celebrar o mesmo dia como o Dia dos Povos Indígenas, um feriado que começou em 1992 em Berkeley, na Califórnia, e rapidamente conquistou adeptos em todo o país.

Muitos optam por celebrar um ou outro feriado, e alguns poucos celebram os dois juntos. Mas o que estarão a homenagear — e porquê?

Notícias falsas?

Qualquer pessoa que acompanhe os meios de comunicação atuais já ouviu o termo "notícias falsas", e quase toda a gente já ouviu ou leu a sua quota-parte delas. Algumas são risivelmente extremas: um candidato político "come bebés", enquanto outro "é um réptil alienígena que veste uma roupa humana". Mas a maioria das informações falsas são muito mais subtis, explorando o medo e a ignorância das pessoas na esperança cínica de as manipular para apoiar uma causa ou outra.

E este não é um fenómeno novo. Os estudantes da Bíblia reconhecerão que os líderes corruptos da comunidade Judaica de Jerusalém espalharam notícias falsas sobre Jesus Cristo, com a ajuda de guardas Romanos que foram cúmplices na calúnia do Logos encarnado (ver Mateus 26:59-61; 28:11-15).

As notícias falsas podem transformar um homem comum num herói ou transformar um ex-herói num vilão. E podem ser inconstantes; basta ver como Elon Musk oscilou entre vilão e herói na percepção popular. Podemos ver isso também na forma como a história tratou Colombo. Terá sido o primeiro globalista, procurando oprimir os nativos Americanos e roubar-lhes as riquezas? Ou terá sido a centelha que deu início a uma nova era de riqueza e crescimento que beneficiaria o mundo inteiro? Ou terá sido um pouco dos dois? Vejamos os factos.

Por que razão Colombo Navegou?

Antes de 1453, os comerciantes Europeus podiam viajar por terra para a Índia e para a China com relativa segurança, graças aos tratados entre o Império Bizantino e o Império Mongol. Mas quando Constantinopla caiu no Império Otomano e Bizâncio entrou em colapso, os comerciantes precisaram de rotas marítimas. Se ainda existisse passagem terrestre segura pela Eurásia, Colombo talvez não tivesse navegado.

Ao contrário do que alguns supõem hoje, Colombo e a maioria dos outros Europeus do seu tempo entendiam que o planeta Terra é esférico. Este era, de facto, um conhecimento antigo. O filósofo Grego Aristóteles, no século IV a.C., sabia que o planeta Terra éra esférico, e o cientista Grego Eratóstenes mediu a sua circunferência com precisão no século III a.C. Ambos eram conhecidos pelos estudiosos medievais. De facto, Aristóteles era tão respeitado que toda a sua visão do mundo, e não apenas o seu conhecimento científico, moldou grande parte da filosofia Católica Romana que prevalecia na época de Colombo. Colombo compreendia os perigos das longas viagens marítimas, mas cair de uma “borda” da Terra não era um dos seus receios.

Catolicismo Errante

Devemos também considerar o ambiente religioso e político da época de Colombo. De 711 a 1238 d.C., grandes porções da Península Ibérica estiveram sob domínio muçulmano, e só em 1492 — ano da primeira viagem de Colombo — os exércitos Católicos reconquistaram Granada, o último reduto Muçulmano em Espanha.

Foi neste ambiente que o Papa Nicolau V, em 1452, emitiu a proclamação papal Dum Diversas, que permitia a escravização de "Sarracenos [Muçulmanos], pagãos e quaisquer outros descrentes". Além disso, em 1493, o Papa Alexandre VI emitiu a sua proclamação Inter Caetra, determinando que uma nação "Cristã" não tinha o direito de estabelecer o domínio sobre terras já dominadas por outra nação Cristã. Juntos, estes decretos papais alimentaram o desejo de explorar "novas" terras onde o descobridor teria livre arbítrio para dominar os recursos e os povos. O crescimento do Império Otomano pode ter estimulado as viagens de Colombo, mas o papado deu-lhe novas oportunidades de obter lucro no estrangeiro.

O Que Descobriu Colombo?

Colombo não chegou à Índia, embora os nativos Americanos tenham passado a ser chamados de índios devido à sua crença errada de que tinha chegado ao que hoje conhecemos como Índias Orientais. Só com as viagens de Américo Vespúcio — após as quais "América" se tornou seu homónimo — é que os Europeus compreenderam claramente que Colombo não tinha encontrado uma rota marítima ocidental conveniente para a Índia, mas, em vez disso, tinha alcançado outro continente.

Durante cada uma das quatro viagens de Colombo, entre 1492 e 1504, este encontrou tribos nativas em guerra e procurou alianças onde pôde. Na ilha de Hispaniola, Colombo conheceu as tribos taínas, que a princípio o acolheram como um aliado contra os caribes, que desprezavam como uma tribo violenta de canibais — embora os estudiosos até hoje debatam se a acusação de canibalismo era uma "noticia errada" que os taínos espalhavam para difamar os seus inimigos e incentivar a sua escravização.

A história mostra que Colombo foi um diplomata, não um conquistador voraz. Sim, ele pressionou os Taínos para minerarem ouro perigosamente, e muitos foram vítimas de doenças e ferimentos. Mas seria um erro rotular Colombo simplesmente como racista; os registos mostram que também agiu brutalmente contra Europeus que ousaram opor-se-lhe — um relato chocante descreve-o a ter a língua cortada de uma espanhola que insultou a sua ascendência. Embora Cristóvão Colombo possa ter sido um líder cruel por vezes, não era o maníaco genocida que muitos o descrevem. Relatos contemporâneos das atividades de Colombo — como os de Bartolomé de las Casas, conhecido pela sua defesa dos Taínos — relatam que, embora os colonos Espanhóis cometessem a sua quota-parte de atrocidades, Colombo intervinha por vezes em apoio dos nativos e castigava os agressores Espanhóis.

Saqueador, Guerreiro ou Criminoso de Guerra?

Cristóvão Colombo foi um criminoso de guerra, o Pol Pot do seu tempo? Se ele procurava a reputação de dominar o poder Espanhol sobre os povos indígenas, devemos considerá-lo um fracasso.

Durante a sua viagem de 1492, Colombo estabeleceu na costa norte do Haiti uma fortaleza conhecida por La Navidad. Em Dezembro de 1492, guarneceu o novo povoado — a primeira colónia Europeia nas Américas desde o tempo de Leif Erickson — com quase 40 homens e abundantes provisões, referindo no seu diário: "Tenho a certeza de que as pessoas que tenho comigo poderiam subjugar toda esta ilha... a população está nua, sem armas e muito cobarde" ("La Navidad de Colombo", AmericanHeritage.com, acedido em 5 de Junho de 2025). No entanto, quando Colombo regressou à colónia em Novembro de 1493, encontrou-a completamente queimada, desolada, excepto pelos corpos de vários colonos que tinham sido mortos por um líder taíno depois de os Europeus terem entrado em conflito.

Colombo desistiu? Ou declarou guerra aos Taínos? Não! Estabeleceu outra colónia a leste — batizando-a de La Isabella, em homenagem à rainha Espanhola — de onde esperava que os colonos pudessem extrair metais preciosos. Mas a nova colónia foi vítima de fome e de doenças e foi logo devastada por colonos amotinados.

Apesar destas complexidades, é notável ver como a reputação de Colombo foi facilmente manchada pelos críticos modernos que procuravam promover as suas agendas políticas e sociais.

O Seu Legado

Alguns historiadores sugerem que os exploradores Chineses chegaram à costa Oeste da América do Norte já em 1421, décadas antes das viagens de Colombo. É sabido que o explorador viking Leif Erickson chegou à costa leste do atual Canadá centenas de anos antes disso. E sabemos que os povos indígenas estiveram nas Américas durante milhares de anos antes de avistarem qualquer colonizador Europeu.

Então, o que diferencia Colombo? Nas palavras do estudioso Hans Selye, “A diferença importante entre a descoberta da América pelos índios, pelos nórdicos e por Colombo é apenas que Colombo conseguiu ligar o continente Americano ao resto do mundo” (From Dream to Discovery: On Being a Scientist, 1964, p. 89). Os Europeus trouxeram muito mais para as Américas do que as suas doenças e regressaram à Europa com novas plantas e novos alimentos — batatas, tomates, pimentos, ananases, amendoins e muito mais. Quando pensamos na devastadora fome da batata na Irlanda, na década de 1840, quantos de nós consideramos que a batata foi inicialmente uma importação das Américas que trouxe uma nova vitalidade à agricultura Irlandesa?

Ao ligar a Europa às Américas, Colombo deu início a outra mudança significativa. Durante séculos, a Europa olhou para dentro, para o seu próprio passado ancestral, como a medida do que podia ser conhecido ou alcançado. Não é por acaso que tantas grandes descobertas científicas surgiram na sequência de Colombo e de outros exploradores, que mostraram aos Europeus que havia novos conhecimentos a serem encontrados fora dos velhos e empoeirados livros de história europeia.

Na verdade, a realidade de Colombo não se coaduna com as caricaturas apresentadas pelos seus opositores — ou pelos seus apoiantes. Colombo era muito menos bárbaro do que muitos outros colonos espanhóis que saqueariam as Américas nas décadas seguintes. Era amigo de pelo menos uma tribo e de muitos indígenas. No entanto, lutando contra canibais e guerreiros, Colombo não era um fracote — não hesitava em matar os seus inimigos quando podia. Devemos também lembrar-nos do outro lado desta equação. Antes da chegada de Colombo, as tribos indígenas guerreavam rotineiramente entre si, demonstrando não menos hesitação em matarem-se uns aos outros do que Colombo demonstrava ao confrontar os seus inimigos.

Foco na Verdade

Onde está Deus em tudo isto? Lemos: “Eis que as nações são como uma gota num balde, e como o pó miúdo na balança; eis que ele levanta as ilhas como a uma coisa muito pequena” (Isaías 40:15). Sim, mesmo quando a humanidade rejeita os Seus caminhos, Deus tem o poder de realizar os Seus propósitos, seja através de triunfos ou de tragédias. Para saber mais sobre as intervenções de Deus na história humana, convidamo-lo a ler o nosso importante livreto Profecia Cumprida: A Mão de Deus nos Assuntos Mundiais. Pode encontrá-lo online em OMundoDeAmanha.org ou solicitar uma cópia impressa gratuita no Escritório Regional mais próximo, listado na página 4 desta revista.

Assim, será errado celebrar o Dia de Colombo ou o Dia dos Povos Indígenas — ou ambos, ou nenhum? Não! Como vimos, a maioria dos que celebram o Dia de Colombo ou o Dia dos Povos Indígenas partilha um leque surpreendente de ideias erradas. Mas será que isso nos deveria surpreender? Como os leitores regulares desta revista entendem, vivemos numa cultura em que incontáveis milhões de pessoas se dizem Cristãs, mas celebram feriados que não só estão cheios de equívocos, mas que, na verdade, vão contra os ensinamentos de Jesus Cristo.

Vivemos cada vez mais num mundo em que os factos não falam por si. Parece que todos têm uma agenda, e a "verdade" só é bem-vinda se estiver de acordo com essa agenda. Mas está a chegar o tempo em que os mitos, as fábulas e as agendas políticas serão substituídos por uma dedicação à verdade em todas as áreas da sociedade. Pois, no regresso de Cristo, o mundo estará sob o Reino de Deus — e Ele é um "Deus da verdade" (Deuteronómio 32:4)!

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